segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A semente da verdade...



Há muito tempo, na China, viveu um menino que gostava muito de flores.
Com mãos dedicadas, Ping, assim se chamava ele, cultivava orquídeas e outras flores, bambus e pequenos arbustos e ainda árvores de fruto. Cada planta tocada por ele crescia viçosa e forte.
Todos os habitantes do império gostavam também muito de flores e tratavam- -nas com igual carinho. Plantavam-nas por todo o lado e o ar era deliciosamente perfumado.

O Imperador gostava muito de pássaros e de outros animais mas, acima de tudo, preferia as flores.
Todos os dias, cultivava o seu próprio jardim. O tempo passou e o imperador , de idade avançada e sem filhos ou parentes próximos, precisou de escolher um sucessor.Quem poderia
ser o seu sucessor? Como o poderia escolher?
Dado que gostava tanto das flores, decidiu deixar que fossem elas a escolher por ele. No dia seguinte, enviou mensageiros a todos os cantos do império com uma ordem: os meninos deveriam dirigir-se ao palácio. Imediatamente, milhares de pequenos súbditos tomaram o caminho do palácio. O imperador aguardou que todas as crianças chegassem.
Apareceu, então, montado no seu cavalo branco, com um ar feliz. “Crianças”, disse ele, com voz determinada, “preciso de escolher o meu sucessor de entre vocês. Para isso, tenho uma tarefa muito especial para vos dar.”

Então, mostrou-lhes muitas sementes de flores. “Tenho aqui estas sementes. Quero que as levem e as cultivem. Quem me trouxer a flor mais bonita, mais cuidada, ao fim de um ano, será o meu sucessor”. Os pais sonhavam que os seus filhos tinham sido escolhidos como sucessores do Imperador e os meninos esperavam com ilusão o mesmo.

Quando Ping recebeu a sua semente das mãos do Imperador, foi o menino mais feliz de todos. Estava seguro que poderia cultivar a flor mais formosa. Ele era um excelente jardineiro. Quando chegou a casa, encheu um vaso com terra fértil. Depois, com mil cuidados, colocou a semente nela. Cuidadosamente, regou-a. Depois, estrumou-a, para que ela se desenvolvesse com vigor. Estava ansioso por vê-la brotar, crescer e florescer. Os dias passaram, depois, semanas… mas nada acontecia, a semente não germinava. 
Ping começou a preocupar-se. Decidiu pôr terra num vaso maior. Na sua inocência, pensou que esse deveria ser um factor importante para o início da vida de uma planta.
Em seguida, mudou a semente. Esperou algum tempo mas nada aconteceu. Ping desesperava. É que, por mais que Ping se esforçasse, a semente não brotava. O menino fez tudo o que podia: adubou mais a terra, colocou o vaso ao sol, regou a semente com água nascente, mas os seus esforços de nada valeram. Chegou a Primavera e, com ela, o fim do prazo dado pelo Imperador. Todas as crianças se prepararam para irem à presença do Imperador. No dia aprazado, todos acorreram ao palácio, acalentando a esperança de serem os eleitos. Ping estava envergonhado com o seu vaso vazio.
Pensou que os outros meninos iriam escarnecer dele porque não tinha sabido cultivar uma flor.
Ao palácio chegavam meninos carregando vasos com flores de todas as cores. Até o vizinho de Ping exibia, orgu-lhoso, as belíssimas flores do seu vaso. “Não conseguiste cultivar una planta tão bonita como a inha.”, disse-lhe o vizinho.“Já cultivei muitas flores melhores que a tua.” retorquiu Ping. Ping estava muito triste mas o pai reconfortou-o: “Fizeste o melhor que pudeste. A tua dedicação foi extrema, mas a semente não brotou. Não te envergo-nhes, filho. Diz a verdade ao Imperador. Talvez seja esta a lição que o imperador deseje que tu aprendas: algumas vezes, a verdade não é tão bonita como uma flor, mas precisamos de a encarar com coragem para vencer grandes desafios.” Animado com estas palavras de esperança, o rapaz pegou no vaso vazio e rumou ao palácio. Sentado no seu trono, o Imperador examinava minuciosamente as plantas. Perguntava a cada criança que lição aprendera com a semente e todas respondiam ter apren-dido sobre o talento, a perseverança e o dom necessário para fazer a semente brotar. 

Que linda era aquela enorme quantidade de flores! Porém, o Imperador permane-cia sério e não dizia uma palavra. Sua Majestade não esboçava sequer um sorriso. Finalmente, aproximou-se de Ping, que inclinou a cabeça, cheio de vergonha, esperando ser repreendido. “Se o imperador não aprovou aquelas plantas maravilhosas, o que não dirá do meu vaso contendo apenas terra? ”, pensou o rapaz, receoso. Ping fora-se atrasando intencionalmente e, quando deu conta, era o último da fila. “Vejamos”, perguntou-lhe o imperador, aproximando-se e falando com voz grave, “O que tens aí para me mostrar? Hum… Por que trouxeste um vaso vazio?” Ping começou a chorar e respondeu: “Senhor, pus a semente que me deu na terra, reguei--a e tratei-a com todos os cuidados mas não germinou. Pu-la num vaso maior mas tão pouco a situação melhorou.”. 

“Esperei o ano inteiro… mas nada. Estou envergonhado e peço perdão... Talvez tenha sido falta de sorte, mas dedicação não me faltou.” E concluiu: “ Refleti muito sobre qual seria a minha atitude e optei por dizer a verdade, relatar-lhe meu esforço e rogar- - lhe perdão.” Quando o Imperador escutou estas palavras, sorriu, abraçou Ping e exclamou, eufórico: “Encontrei! Encontrei uma pessoa digna de ser o próximo Imperador!” E dava pulos de alegria, como uma criança. “Não te envergonhes, rapaz. Deste o teu melhor. Levanta a ca-beça. És o meu futuro sucessor.” “E vós”, disse o Imperador, dirigindo-se aos outros, “Prestai atenção: Hoje, o valor que prevaleceu foi a verdade, a honestidade.” E, dirigindo-se novamente para Ping, continuou: 

“Vou-te explicar: eu tinha queimado todas as sementes antes de as entregar às crianças. Nenhuma poderia germinar, jamais. Portanto, entre todas as crianças que aqui estão, tu foste a única que cultivou a semente da verdade.” Voltando-se nova-mente para os seus pequenos súbditos, rematou: “Admiro a grande valentia de Ping de comparecer diante de mim com a sua verdade vazia. Assim, concedo- -lhe o título de «Imperador da China»”.